sexta-feira, 31 de agosto de 2012

MÁRIO DE ANDRADE

MÁRIO DE ANDRADE
(1893-1945)



Mário Raul de Morais Andrade nasceu e morreu em São Paulo, deixando uma valiosa obra literária em que se destacam Paulicéia Desvairada (1922), Losango Cáqui (1926) e Clã do Jabuti (1927). Sua obra prima é o romance Macunaíma , um clássico da literatura brasileira com adaptações de grande impacto também no teatro e no cinema.
“Criador de novos rumos, realizou, em poesia, experiências de ritmos e metros, valendo-se, para tanto, de todas as sugestões que a linguagem podia oferecer, e, nesta trilha, valorizou a fala brasileira, que transformou no seu principal instrumento de criação, num esforço de nobilitá-la, de lhe dar consistência e forma. Procurava uma “estilização culta da linguagem popular da roça como da cidade, do passado e o presente” — como explicava. “
         MÁRIO DA SILVA BRITO , em “Poesia do Modernismo”. Rio de Janeiro: Civilização Brasleira, 1968

“Não sei que impressão teria recebido da Paulicéia [desvairada], se a houvesse lido em vez de a ouvir da boca do poeta. Mário dizia admiravelmente os seus poemas, com que indiretamente os explicava, em suma, convencia.” MANUEL BANDEIRA,  “Itinerário de Pasárgada”, 3ª ed., p. 69.



Menino, tu me recordas
A minha presença em mim!
                     M. de A.

Traducciones de José Antonio Pérez


Ode ao Burguês
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
O burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os "Printemps" com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!
Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
"— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
— Um colar... — Conto e quinhentos!!!
Más nós morremos de fome!"

Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! Oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!

Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burguês!...
(Paulicéia Desvairada,1922)

Oda al Burgués
¡Yo insulto al burgués! ¡Al burgués-plata,
al burgués-burgués!
¡La digestión bien hecha de São Paulo!
¡Al hombre-panza!, ¡al hombre-culón!
¡Al hombre que siendo francés, brasileño, italiano,
es siempre un cauteloso poco-a-poco!

¡Yo insulto a las aristocracias cautelosas!
¡A los barones bandidos!, !a los condes Juanes!, a los duques rebuznos!
que viven dentro de muros sin saltos;
y gimen sangre de unos cuantos duros débiles
para decir que las hijas de su señora hablan francés
y tocan el “Printemps” aporreando el piano!

¡Yo insulto al burgués-funesto!
¡Al indigesto puchero con tocino, señor de las tradiciones!
¡Fuera los que guarisman las mañanas!
¡Mira la vida de nuestros setiembres!
¿Hará Sol?
Pero a la lluvia de los rosales,
¡el éxtasis dará siempre Sol!

¡Muerte a la gordura!
¡Muerte a las adiposidades cerebrales!
¡Muerte al burgués-mensual!,
¡al burgués-cine!, ¡al burgués-coche!
¡Panadería Suiza! ¡Muerte viva al Adriano!
“-Ay, hija, ¿qué te regalaré para tu cumpleaños?
-Un collar… -¡¡¡Mil quinientos!!!
¡Pero nosotros nos morimos de hambre!”

¡Come! ¡Cómete a ti mismo!, oh, gelatina pasmada!
!Oh! !Puré de patatas morales!
!Oh!, !pelos en las narices!
!Odio a los temp
¡Odio a los relojes de carne y hueso!
¡Odio a las cuentas! !Odio a los colmados!
¡Odio a los sin desfallecimientos ni arrepentimientos,
sempiternamente a las rutinas convencionales!
Con las manos atrás!
¡Dos a dos! !Posición primera! ¡ Marcha!
¡Todos para el Central de mi rencor embriagante!

¡Odio e insulto!
¡Muerte al burgués de hinojos,
en olor de religión y que no cree en Diós!
¡Odio rojo!
¡Odio fundamento, sin perdón!

¡Fuera!


Eu Sou Trezentos...
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh ! Pirineus ! Ôh caiçaras !
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro !
Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis,
nas camarinhas seus próprios beijos !

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.


Soy trecientos...
Yo soy trescientos, soy trescientos y cincuenta,
La sensaciones renacen de sí mismas sin reposo,
¡Oh, espejos, oh! ¡Pirenos! ¡Oh, caizaras!
Si muerte un dios, iré a Piauí a buscar otro!
¡Abrazo en mi lecho las mejores palabras,
Y los suspiros que doy son violines ajenos;
Piso la tierra, como quien descubre a hurtadillas
En las esquinas, en los taxis, en las alcobas sus propios besos!

Yo soy trescientos, soy trescientos y cincuenta,
mas por fin un día toparé conmigo…
Tengamos paciencia, golondrinas breves,

Sólo el olvido es lo que condensa,
Y entonces mi alma servirá de abrigo.

sábado, 25 de agosto de 2012

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
(1902-1987)


Carlos Drummond de Andrade (Itabira do Mato Dentro [Itabira] MG, 1902 - Rio de Janeiro RJ, 1987) formou-se em Farmácia, em 1925; no mesmo ano, fundava, com Emílio Moura e outros escritores mineiros, o periódico modernista A Revista. Em 1934 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde assumiu o cargo de chefe de gabinete de Gustavo Capanema, Ministro da Educação e Saúde, que ocuparia até 1945. Durante esse período, colaborou, como jornalista literário, para vários periódicos, principalmente o Correio da Manhã. Nos anos de 1950, passaria a dedicar-se cada vez mais integralmente à produção literária, publicando poesia, contos, crônicas, literatura infantil e traduções. Entre suas principais obras poéticas estão os livros Alguma Poesia (1930), Sentimento do Mundo (1940), A Rosa do Povo (1945), Claro Enigma (1951), Poemas (1959), Lição de Coisas (1962), Boitempo (1968), Corpo (1984), além dos póstumos Poesia Errante (1988), Poesia e Prosa (1992) e Farewell (1996). Drummond produziu uma das obras mais significativas da poesia brasileira do século XX. Forte criador de imagens, sua obra tematiza a vida e os acontecimentos do mundo a partir dos problemas pessoais, em versos que ora focalizam o indivíduo, a terra natal, a família e os amigos, ora os embates sociais, o questionamento da existência, e a própria poesia.
Fonte da minibiografia: www.astormentas.com/



SAGRAÇÃO

Rocinante
pasta a erva do sossego.

A Mancha inteira é calma.
A chama oculta arde
nesta fremente Espanha interior.

De giolhos e olhos visionários
me sagro cavaleiro
andante, amante
de amor cortês a minha dama,
cristal de perfeição entre perfeitas.

Daqui por diante
é girar, girovagar, a combater
o erro, o falso, o mal de mil semblantes
e recolher, no peito em sangue,
a palma esquiva e rara
que há de cingir-me a fronte
por mão de Amor-amante.

A fama, no capim
que Rocinante pasta,
se guarda para mim, em tudo a sinto,
sede que bebo, vento que me arrasta.



O MACACO BEM INFORMADO

Indaga a este macaco teu passado
e ele dirá o certo e o imaginado.

O que te aconteceu na estranha lura
jamais vista de humana criatura

foi delírio ou concreta realidade,
visão inteira ou só pela metade?

Como aferir, em cada ser, a parte
que tem raiz numa insondável arte

(de Deus ou do Tinhoso) que transforma
o banal em sublime, o sonho em norma?

Tudo isto e muito mais, por um pataco
saberás, consultando este macaco.

REGISTRO CIVIL

Ela colhia margaridas
quando eu passei. As margaridas eram
os corações de seus namorados,
que depois se transformaram em ostras
e ela engolia em grupos de dez.

Os telefones gritavam Dulce,
Rosa, Leonora, Carmen, Beatriz.
Porém Dulce havia morrido
e as demais banhavam-se em Ostende
sob um sol neutro.

As cidades perdiam os nomes
que o funcionário com um pássaro no ombro
ia guardando no livro de versos.
Na última delas, Sodoma,
restava uma luz acesa
que o anjo soprou.
E na terra
eu só ouvia o rumor
brando, de ostras que deslizavam,
pela garganta implacável.

Brejo das Almas  (1934)


POEMA DE SETE FACES

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.


JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

PROCURA DA POESIA

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

MÃOS DADAS

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos,
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

( Sentimento do Mundo)

CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

                            ( De Sentimento do Mundo)
OS MORTOS

Na ambígua intimidade
que nos concedem
podemos andar nus
diante de seus retratos.
Não reprovam nem sorriem
como se neles a nudez fosse maior.

                   (De Lição de Coisas)




De
O AMOR NATURAL,
1992

SUGAR E SER SUGADO PELO AMOR

Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante     boca milvalente
o corpo dois em um    o gozo pleno
que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar o ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.


DE ARREDIO MOTEL EM COLCHA DE DAMASCO

De arredio motel em colcha de damasco
viste em mim teu pai morto, e brincamos de incesto.
A morte, entre nós dois, tinha parte no coito.
O brinco era violento, misto de gozo e asco,
e nunca mais, depois, nos fitamos no rosto.


O QUE SE PASSA NA CAMA

(O que se passa na cama
é segredo de quem ama.)

É segredo de quem ama
não conhecer pela rama
gozo que seja profundo,
elaborado na terra
e tão fora deste mundo
que o corpo, encontrando o corpo
e por ele navegando,
atinge a paz de outro horto,
noutro mundo: paz de morto,
nirvana, sono de pênis.

Ai, cama, canção de cuna,
dorme, menina, nanana,
dorme a onça suçuarana,
dorme a cândida vagina,
dorme a última sirena
ou a penúltima... O pênis
dorme, puma, americana
fera exausta. Dorme, fulva
grinalda de tua vulva.
E silenciam os que amam,
entre lençol e cortina
ainda úmidos de sêmen,
estes segredos de cama.


PARA O SEXO A EXPIRAR

Para o sexo a expirar, eu me volto, expirante.
Raiz de minha vida, em ti me enredo e afundo.
Amor, amor, amor — o braseiro radiante
que me dá, pelo orgasmo, a explicação do mundo.

Pobre carne senil, vibrando insatisfeita,
a minha se rebela ante a morte anunciada.
Quero sempre invadir essa vereda estreita
onde o gozo maior me propicia a amada.

Amanhã, nunca mais. Hoje mesmo, quem sabe?
enregela-se o nervo, esvai-se-me o prazer
antes que, deliciosa, a exploração acabe.

Pois que o espasmo coroe o instante do meu termo,
e assim possa eu partir, em plenitude o ser,
de sêmen aljofrando o irreparável ermo.