WALY
SALOMÃO
(1944-2003)
(1944-2003)
Baiano de Jequié, Wally
esteve ligado aos Tropicalistas Caetano Velloso, Torquato Neto, Gilberto Gil,
Gal Costa mas não se considerava do grupo.
O primeiro livro de poemas, Me segura que eu vou dar um troço, foi lançado em 1971. Os
poemas presentes no livro de estréia foram escritos durante a temporada na
prisão. Outros livros do autor: Gigolô
de Bibelôs, Surrupiador
de Souvenirs, Algaravias,
Lábia e Tarifa de Embarque, e
a coletânea O Mel do Melhor.
Além de poeta, Waly Salomão
também era letrista e produtor cultural. Muito irreverente, declamava poemas em
programa da TVE e participava de filmes. Como letrista, colaborou com
muitos artistas, como Caetano Veloso (Talismã), Lulu Santos (Assaltaram a
Gramática, sucesso com os Paralamas do Sucesso), Adriana Calcanhotto (Pista de
Dança), entre outros.
Era muito divertido e sagaz.
Estive com ele pouco antes de sua morte, quando ocupava um cargo de direção no
Ministério da Cultura do Ministro Gilberto Gil e discutíamos projetos de
divulgação do livro e da leitura. Na oportunidade escreveu uma dedicatória num
de seus livros em que me chamava de “caótico neoconcreto”... A partir daí
assumi a minha oximoridade... Antonio Miranda
"The
guiding word interfaces is
also a homage to a unique creative writer and prematurely departed cultural
agitator, Waly Salomão
(1943-2003), who bridged the counterculture of the early i970s and the
artistically polymorphous initial years of the new millennium. In one of the
poems of his last (posthumous) book, entitled "Interfaces," he links
our classical heritage to the age of hypertext and Web portals, alliteratively
designating himself as "o demiurgo / o domador / o designer / o
diagramador" (Pescados
vivos, 27) [the demiurge / tamer-trainer / designer / layout
artist]. The concluding three-item flourish of the book in which Salomão´s
short lyric appears represents the hemispheric spirit underlying the present
criticai study. On facing pages (74-75) the Brazilian poet reproduces a
marked-up paragraph from Ralph Waldo Emerson´s essay "The Poet" and
the most celebrated universal linguistic truth at the center of that piece:
"Language is fossil poetry." The second item is a translation from
the Spanish of a celestial-toned text by Chilean avant-garde poet Vicente
Huidobro, which ends in "silence." The third item, on the final page
(79) of Salomão´s last book, is a translation of Walt Whitman´s "Once I
Passed through a Populous City," which celebrates togetherness, memory,
and wordless farewell. Emotion, engagement, and multilingual geography remain
as an open message in a lyrical design left by an ecumenical artist who at the
time of his death was working for the pop-star minister of culture, Afro-Brazilian
singer-songwriter and community activist Gilberto Gil, in the capacity of
national secretary of books and reading."
From: PERRONE,
Charles A. Brazil,
Lyric, and the Americas. Gainesville, Fl.: University
Press of Florida, 2010. 250 p
ISBN 978-0-813903421-8
NOSSO AMOR RIDÍCULO SE ENQUADRA
NA MOLDURA DOS SÉCULOS
NOSSO AMOR
RIDÍCULO SE ENQUADRA NA MOLDURA DOS SÉCULOS
SUGO ESPIRAIS
DAS NUVENS DE CIGARRO QUE FUMO
SOFRO
BAFORADAS-CARAMUJO POR ENTRE VOLUTAS DO UNIVERSO
EU, PEQUENINO
GRÃO DE AREIA-POETA, PLASMO RIMA ALITERAÇÃO
METÁFORA OXIMORO VERSO
PASTO
PALAVRA: QUINQUILHARIA NINHARIA PALÁCIO DO NENHURES
Ó CASTELO
DE VENTO
PASTEL DE BRISA
MONTE DE GANGA BRUTA
ESTUÁRIO DE
BUGINGANGA
NONADA
EM CONFRONTO
COM MANADAS MIRÍADES D´ESTRELAS ESPOUCADAS
SOBRE OS SETE
DIFERENTES MARES QUE SETE ESPELHOS SÃO PARA
ALGUM
MAR
ABSOLUTO
(ROMA E
BAALBECK E BAGDAD E BABILÔNIA E BABEL SIDERAL)
E É NOSSO
AMOR TÃO DIMINUTO
LAMPEJO DE SEGUNDO
RELÂMPAGO
DISSOLUTO
FILETE DUM
RIO MINÚSCULO
MICROSCÓPIO
LEITO
AMOR
.....................................................NOSSO SÉCULO:
BURACO NEGRO
SORVEDOURO DE VULTO AROMA LUZ
BAGAÇOS DE
ROLHA BOLHA BORRA PORRA PÓ
BEBO VINHO
PRECIOSO COM MOSQUITOS DENTRO
MURIÇOCA
MARUIM POTÓ
(de Gigolô de bibelôs)
ARS POÉTICA /OPERAÇÃO
LIMPEZA
Assi me
tem repartido extremos, que não entendo...
(Sá de Miranda)
I-
SAUDADE é uma palavra
Da língua portuguesa
A cujo enxurro
Sou sempre avesso
SAUDADE é uma palavra
A ser banida
Do uso corrente
Da expressão coloquial
Da assembléia constituinte
Do dicionário
Da onomástica
Do epistolário
Da inscrição tumular
Da carta geográfica
Da canção popular
Da fantasmática do corpo
Do mapa da afeição
Da praia do poema
Pra não depositar
Aluvião
Aqui nesta ribeira.
II-
Súbito
Sub-reptícia sucurijuba
A reprimida resplandece
Se meta-formoseia
Se mata
O q parecia pau de braúna
Quiçá pedra de breu
Quiçá pedra de breu
CINTILA
Re-nova cobra rompe o ovo
Da casca velha
SIBILA
III-
SAUDADE é uma palavra
O sol da idade e o sal das lágrima
(da Revista Imã)
O CÓLERA E A FEBRE
(PASTICHE PÁLIDO E MAL CESURADO DE CESARIO VERDE)
UM BODE
IMUNDO IRROMPE
(ÍGNEA
FLECHA? DARDO EM FOGO? BÓLIDE NO LUSCO-FUSCO?)
EM MÓRBIDA
TROPELIA EM DESABRIDA CORRERIA
E PERANTE
MINHA
PESSOA
A FERA
ESTACA
JÁ DENTRO DE
MIM SE ESMERA
NUM ENRODILHADO
TORCIDO E IGNOTO JOGO MALABAR.
PRAIA FÉERIE
COOPER JOGGING CORPO AO SOL TORSO AO MAR;
MINHA PORÇÃO
NA PARTILHA:
LYCOPODIUM
TÉDIO PORRE TOSSE TORPOR
HOMEOPÁTICO E
PLUVIOSO HORROR.
Nas nossas
ruas,
ao anoitecer.
(De Armarinho
de miudezas)
EXTERIOR
EXTERIOR
Por que a
poesia tem que se confinar
às paredes de
dentro da vulva do poema?
Por que
proibir à poesia
estourar os
limites do grelo
da
greta
da gruta
e se espraiar
em pleno grude
além da grade
do sol
nascido quadrado?
Por que a
poesia tem que se sustentar
de pé,
cartesiana milícia enfileirada,
obediente
filha da pauta?
Por que a
poesia não pode ficar de quatro
e se agachar
e se esgueirar
para gozar
-CARPE DIEM!-
fora da zona
da página?
Por que a
poesia de rabo preso
sem poder se
operar
e, operada,
polimórfica e perversa,
não poder
travestir-se
com os clitóris e os balangandãs da lira?
(Líbia)
AMANTE
DA ALGAZARRA
Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto.
É ela!!
Todo mundo sabe, sou um lisa flor de pessoa,
Sem espinho de roseira nem áspera lixa de folha de
figueira.
Esta amante da balbúrdia cavalga encostada ao meu sóbrio
ombro.
Vixe!!
Enquanto caminha a pé, pedestre – peregrino atônito até a
morte.
Sem motivo nenhum de pranto ou angústia rouca ou
desalento:
Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto
E se apossou do estojo de minha figura e dela expeliu o
estofo.
Quem corre desabrida
Sem ceder a concha do ouvido
A ninguém que dela discorde
É esta
Selvagem sombra acavalada que faz versos como quem morde.
(De Tarifa
de Embarque)
ARENGA DA AGONIA
para Duncan Lindsayvocê não possui casa alguma de onde sair,
você não pode voltar para casa nenhuma,
o prólogo acabou e a mácula timbra a imagística:
o beco sem saída não constitui mais
mera figura de retórica.
você é o beco sem saída completo:
corpóreo,
encorpado, e, incorporado.
você não acha mais bainha onde encaixar sua faca.
acabou-se o que era doce, o confete foi-se,
está findo o efeito placebo.
queimado o filme e desmoronada a encosta
e esgotada a pilha da prosopopéia.
eia, pois, advogada nossa,
quando esse atrapalho doloroso vai passar?
no dia da eterna noite escura de são nunca.
(Extraído de LÁBIA, 1998
LIVRO DE CONTOS
(ALMA LÍRICA PAQUIDÉRMICA)
Alma emputecida
Sombra esquisita
Se esquiva
Entre
Laços de Família
De Gigolô de bibelôs (1983)
SALA SUNYATA
Ó, tabula rasa.
Nada vezes nada, noves fora nada.
Sol nulo dos dias vãos. Lua nula das noites vãs.
Eis que atingi o ponto Nadir.
Se todas as coisas nos reduzem a
ZERO
é daí do
ZERO
que temos que partir.
De Lábia (1998)
TEXTOS EN ESPAÑOL
Tradução de Adolfo Montejo Navas
LIBRO
DE CUENTOS
(ALMA
LÍRICA PAQUIDÉRMICA)
Alma encabronada
Sombra miserable
Se esquiva
Entre
Lazos de Familia
De Gigolô
de bibelôs (1983)
ARS
POÉTICA
OPERACIÓN
LIMPIEZA
“Así me vienen repartiendo extremos, que no entiendo...»
Sá de Miranda
I - SAUDADE es una palabra
De la lengua portuguesa
A cuya abundancia
Soy siempre adverso
SAUDADE es una palabra
A ser borrada
Del uso corriente
De la expresión coloquial
De la asamblea constituyente
Del diccionario
De la onomástica
Del epistolario
De la inscripción lapidaria
De la carta geográfica
De la canción popular
De la fantasmagoría del cuerpo
Del mapa de la afectación
De la playa del poema
Para no depositar
Aluvión
Aquí
En esta ribera.
II - De repente
Subrepticia cobra sucuri*
La reprimida resplandece
Se metamorfosea
Se mata
Lo que parecía palo de brauna**
Quizá piedra de oscuro
Quizá piedra de oscuro
CENTELLEA
Re-nueva cobra rompe el huevo
De la cascara vieja
SIBILA
III - SAUDADE es una palabra
El sol de la edad y la sal de las lágrimas.
De Armarínho de miudezas (1993)
* Variedad de cobra gigante del
Brasil.
** Árbol leguminoso del Brasil.
SALA
SUNYATA
Oh, tábula
rasa.
Nada veces nada, nueves fueran nada.
Sol nulo de los días vanos. Luna nula de
las noches vanas.
He aquí que alcancé el punto Nadir.
Si todas las cosas nos reducen a
CERO
es de ahí del
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