sexta-feira, 21 de setembro de 2012

POESIAS DE ABEL SILVA

ABEL SILVA

“Poeta, Ael Silva surgiu no final dos anos 60, apresentado por Ziraldo no jornal O Pasquim. O primeiro livro, o romance O afogado, foi editado em 1971, seguindo depois um volume de contos e três livros de poesia. Letrista consagrado, é autor de sucessos como Festa do interior e Jura secreta, de onde saiu o verso que dá título a este livro.” (...) “Criador de uma “poesia que se comunica e encontra expressão natural em música”, segundo Carlos Drummond de Andrade; “Neomodernista surpreendente de cuca voadora”, como o definiu  Glauber Rocha; “tem marca própria, uma visão poética original”, densa, mas cheia de alegria de viver e de um lirismo contemporâneo e sensual”, de acordo com Ana Maria Machado; “sensibilidade polifônica, disciplinada e dançarina”, no dizer de Heloisa Buarque de Holanda, Abel Silva formou-se em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é professor da mesma universidade,além de ter lecionado na PUC do Rio. Foi editor da revista de poesia Anima, ao lado de Capinam, entre 1974 e 1975, e editor de cultura do jornal Opinião.




LOCAL

De onde me viria
esta história de o amor
ser de partida?

E esta agonia,
o inquirir de cada olhar
o revés
do esquecimento?

Minha praia é esta
meu convés o litoral
eu sou a minha nau
e o meu descobrimento.

Eu não conheço a dor dos navegantes
nem as areias escaldantes
dos salvados do mar...

Se sou assim desde o primeiro dia
por que fugir de mim
em travessia?


GALO CANTANDO

Tem tempo que não ouço um galo
cantando na madrugada
um galo chamando o dia
dentro da noite calada

Seu canto marcando o terreno
de sua própria ousadia
entre a sombra e o clarão
na noite a sua vigia

Canto que puxa o tempo
de dentro do poço escuro
sangue de um outro dia
carne de um outro futuro.


ASAS

O que este punhal tem de ave
são asas da imaginação
a dor voa mas volta sempre
e pousa em meu coração.

Voa gaivota breve, voa leve
que o mar tem alma secreta
e guarda a carne dos peixes
a solidão do poeta.

(Musicado por Fagner)


VELHOS II

Para onde vão os velhos brasileiros?
Os velhos paraíbas, as velhas prostitutas,
os velhos camelôs, o Dr. Rubis do Flamengo,
os velhos figurantes das chanchadas que voltam aos vídeos
domingueiros, onde fazem agora as
caretas da velhice?
Os velhos músicos de boate,
as vedetes dos últimos degraus, vão para onde?
Quando a vida derrete e despenca
para onde vão os velhos vendedores de chica-bom?
Eu não quero saber do destino
dos garfos
facas
dentes
cabelo
o menino que fui.
Quero é saber: para onde vão os velhos brasileiros?


SUICIDA

Deste lado
de meu tormento
no limbo penugem e morno vento
sou o que sempre fui
menos a dor e as perguntas
mais o esquecimento.





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