O ministro Joaquim Barbosa (Relator do Mensalão) assume
comando do STF com megaevento
O ministro Joaquim Barbosa assume nesta quinta-feira a
Presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) em cerimônia que busca fazer jus
à fama que conquistou nos últimos meses.
Cerca de 2 mil pessoas foram convidadas para o evento, que
começará às 15h (horário de Brasília) no Supremo e se estenderá noite adentro
num dos principais buffets de Brasília - o Porto Vittoria, às margens do lago
Paranoá. A festa será paga por associações de juízes.
Jornalistas acompanharão a cerminônia da posse em telões
montados do lado de fora do tribunal.
Entre os convidados, estão a presidente Dilma Rousseff e o
presidente da Câmara, Marco Maia, além de celebridades como os atores Lázaro
Ramos e Taís Araújo, a apresentadora Regina Casé, os músicos Djavan e MV Bill e
o ex-piloto Nelson Piquet.
Também são esperados representantes do movimento negro
brasileiro, como o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, José Vicente, e o
advogado Humberto Adami, do Instituto de Advocacia Racial.
Cerca de 100 convites foram enviados a ex-colegas do ministro
que lecionam em universidades nos Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e
Alemanha.
A grandiosidade do evento é atribuída a um fato inédito na
história do Supremo: Barbosa será o primeiro negro a assumir a Presidência do
órgão. No entanto, a fama do ministro cresceu nos últimos meses não apenas por
causa da cor de sua pele, mas por sua atuação no julgamento do mensalão.
Barbosa é o relator da ação penal, tida como um marco para a
história do STF. No processo, a maioria dos magistrados acompanhou a posição do
ministro e considerou procedente a denúncia de que, entre 2003 e 2005, o
governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desviou recursos públicos
para comprar apoio político.
Nas sessões, que começaram em 2 de agosto e não têm data para
terminar, 25 dos 37 réus foram considerados culpados, entre os quais o
ex-ministro José Dirceu, condenado a dez anos e dez meses de prisão.
Nas próximas semanas, o órgão deverá concluir a definição das
penas dos condenados.
Fama
Durante o julgamento, Barbosa ganhou fama repentina: enquanto
votava no Rio, no mês passado, ele foi abordado por moradores que queriam ser
fotografados ao seu lado.
Desde então, o ministro estampou capas de revistas e foi
citado por jornais estrangeiros. Para o The New York Times, ele está emergindo
do julgamento como uma espécie de "herói político".
A popularidade de Barbosa tem gerado até especulações de que
ele pode se lançar na política, hipótese não confirmada por ele.
Nomeado para o STF em 2003 pelo então presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, Barbosa, de 58 anos, foi alçado ao comando da corte em votação
simbólica. A tradição do Supremo recomenda que a Presidência seja exercida pelo
ministro há mais tempo na casa e que ainda não a tenha ocupado.
Ele substituirá o ministro Ayres Britto, que se aposentou na
semana retrasada após completar 70 anos, e ficará no posto por dois anos.
Relações tensas
Festejado nas ruas, Barbosa mantém relações tensas com alguns
membros do Supremo. Durante o julgamento do mensalão, ele trocou farpas com
dois colegas: o revisor do processo (e agora vice-presidente do STF), Ricardo
Lewandowski, e o ministro Marco Aurélio Mello.
Antes do julgamento, Barbosa já se envolvera em outras
discussões no Supremo e fora objeto de comentários depreciativos de colegas.
Em 2007, a ministra Carmen Lúcia foi flagrada por jornalistas
ao enviar uma mensagem para Lewandowski em que citava a nomeação de Barbosa
para a relatoria do processo do mensalão: "Esse vai dar um salto social
com o julgamento", escreveu a ministra.
Em 2009, durante um bate-boca na corte, o então presidente do
STF, Gilmar Mendes, afirmou que Barbosa não tinha "condições de dar lição
a ninguém". Barbosa respondeu: "Vossa Excelência, quando se dirige a
mim, não está falando com os seus capangas do Mato Grosso, ministro
Gilmar".
Carreira internacional
Nascido em Paracatu (MG), Barbosa se formou em direito na
Universidade de Brasília e fez mestrado e doutorado na Universidade de
Paris-II.
É professor licenciado da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (Uerj) e autor de dois livros sobre direito - um sobre o funcionamento
do Supremo, editado na França, e outro sobre o efeito de ações afirmativas nos
Estados Unidos.
Antes de ingressar na corte, o ministro ocupou diversos
cargos na administração federal, entre os quais o de procurador da República
(entre 1984 e 2003), chefe da consultoria jurídica do Ministério da Saúde
(1985-88) e oficial de chancelaria do Ministério das Relações Exteriores
(1976-1979), chegando, inclusive, a servir na embaixada do Brasil na Finlândia.
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