Em entrevista ao iG, autor fala de política e novelas/Valmir Moratelli, iG Rio de Janeiro (Foto: Léo Ramos)
Final de novela costuma atrair atenção especial do público, com todos os desfechos previsíveis que os folhetins exigem de seus criadores. Em seguida, detalhes dos personagens caem no esquecimento para dar espaço aos novos dramas da teledramaturgia. Uma cena final de uma novela, entretanto, ainda hoje permeia o imaginário popular. A trama é “Vale Tudo”, de 1989. O autor Gilberto Braga chocou todo mundo ao dar um desfecho conveniente a um personagem escroque. Marco Aurélio (interpretado por Reginaldo Faria) fugiu com o dinheiro roubado, entrou em um helicóptero e, num derradeiro gesto, deu uma ‘banana’ com os braços a quem ficava para trás.
Tornou-se um marco, não apenas por ser bastante incomum dar final feliz aos vilões novelescos, como também representou uma realidade de como andava (anda?) a ética do País – a falta de remorsos de quem rouba ou trapaceia.
Gilberto Braga: "Prefiro escrever minissérie porque é mais compacta"
Em entrevista ao iG, e já começando a escrever a sua próxima novela das oito, com o título provisório de “Insensato Coração”, Gilberto afirma que não voltaria a dar um “final feliz” a um vilão. Sem muitas palavras, direto ao ponto, ele diz: “Não creio que volte a dar um final feliz pra um vilão, estamos todos de saco cheio de impunidade”.
Em uma recente palestra na Academia Brasileira de Letras, Gilberto comentou que os mais jovens costumam acreditar que o mistério do final de “Vale Tudo” (Quem matou Odete Roitman?) durou toda a novela. Se isso o chateia quando resumem a trama ao assassinato de Odete Roitman (vivida por Beatriz Segal)? Não é o caso. “De modo algum, pra eu me chatear precisa muito mais que isso”, diz.
Em tempos de ano eleitoral, Gilberto não poupa comentários – ainda que, mais uma vez, comedidos na quantidade das palavras – a respeito de como analisa os oito anos do governo Lula. O novelista já o apoiou, esteve ao seu lado e o defendeu. Não faz mais. Mudou de lado. Mais que isso. Em uma auto-avaliação, diz qual é sua posição política atual. “Sou ex-petista sim, decepcionei-me com o PT e com o Lula. Vou votar no Serra”. Na entrevista por email – ele não conversa com a imprensa de outra forma há anos – Gilberto não respondeu a questões como “Por que, dessa vez, já declarou seu voto em Serra? Onde o PT mais te decepcionou?”.
Novos trabalhos
Recentemente, Gilberto lançou o livro “Anos Rebeldes - Os Bastidores da Criação de uma Minissérie”, a respeito de um outro trabalho seu de bastante repercussão e até hoje lembrado. Entre as revelações que a obra traz, entre outras coisas, está a de que a censura interna da Globo foi "um fantasma terrível" durante a escrita do texto. Perguntando quem era o responsável pela censura dentro da emissora, Gilberto não polemiza. “Não sei”.
É vasta sua carreira como escritor de novelas. Entre seus trabalhos para a TV, já houve adaptações da literatura (como “O Primo Basílio”) e obras com forte crítica social (“Vale Tudo”). Qual é a linha de trabalho que mais o instiga, que mais o motiva? “Gosto de todas as linhas, prefiro escrever minissérie porque é mais compacta. Mas com a divisão de trabalho, estou começando a gostar de escrever novela também”, diz.
Ao ser solicitada esta entrevista, ele foi taxativo. “Mande perguntas. Poucas porque eu estou trabalhando muito”. Para “Insensato Coração”, que substituirá “Passione”, em janeiro próximo, já há nomes como Fabio Assunção, Glória Pires, Camila Pitanga, Ary Fontoura, Natália do Vale, Natália Timberg, além de Wagner Moura, que faria o mocinho, e Selton Mello, o vilão.
Sua última novela, “Paraíso Tropical” (2007), obteve 51 pontos de audiência. Atualmente, “Passione” fica em torno dos 35, o que já se tornou uma constante no horário nobre da TV Globo. Gilberto diz não saber por que, hoje, as telenovelas já não alcançam a média de audiência de alguns anos atrás. Questionado se acredita que a internet e as novas mídias vão pôr fim às novelas, ele, mais uma vez, é econômico. “Acho que não, mas estou chutando”.
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