Albumina retirada do arroz é equivalente a derivada do sangue humano. Demanda mundial pela proteína é de cerca de 500 toneladas (AFP)
Cientistas de uma universidade chinesa anunciaram nesta segunda-feira que haviam conseguido extrair, a partir do arroz, uma proteína encontrada no sangue humano denominada albumina, que é usada para tratar queimaduras, choques traumáticos e doenças no fígado.
Quando retirada das sementes do arroz, a proteína é "física e quimicamente equivalente à albumina derivada do soro sanguíneo humano (HSA)", afirmaram os cientistas em estudo publicado no periódico americano Proceedings of the National Academy of Sciences.
A descoberta pode revolucionar a produção de HSA, que costuma ser extraída das doações de sangue humano.
Leia mais:
Rastreamento do genoma do arroz revela cruzamentos
Cientistas desenvolvem "superarroz" que se adapta ao clima
A demanda pela proteína sanguínea é de cerca de 500 toneladas ao ano em todo o mundo e a China sofreu, no passado, episódios preocupantes de escassez.
O método de extração de albumina do arroz foi desenvolvido por cientistas da Universidade de Wuhan, na China, e colegas do Conselho Nacional de Pesquisas do Canadá e do Centro de Genômica Funcional da Universidade de Albany, no estado de Nova York.
Primeiro, os cientistas manipularam geneticamente as sementes de arroz para que produzissem níveis elevados de HSA. Em seguida, desenvolveram uma forma de purificar a proteína das sementes, coletando cerca de 2,75 gramas de albumina por quilograma de arroz.
Quando testaram a proteína extraída do arroz em camundongos com cirrose hepática, uma doença em que a albumina humana costuma ser usada, eles descobriram resultados similares ao tratamento feito com HSA.
"Nossos resultados sugerem que o biorreator de uma semente de arroz produz um custo-benefício de HSA recombinante que é seguro e capaz de satisfazer a demanda crescente por albumina humana", destacou o estudo.
A proteína costuma ser usada também na produção de vacinas e medicamentos e é aplicada em pacientes com sérias lesões derivadas de queimaduras, choque hemorrágico e doenças no fígado, afirmaram os cientistas.
Em 2007, a escassez da proteína na China fez os preços dispararem e provocaram um breve aumento no número de remédios à base de albumina fraudulenta no mercado. Uma vez que a substância é extraída do sangue humano, seu uso também gera o temor de transmissão de hepatite e HIV.
O plantio de arroz geneticamente modificado em larga escala, capaz de produzir sementes em quantidade suficiente para a produção em massa de albumina também suscita preocupações ambientais e de contaminação alimentar, uma vez que o arroz é um importante alimento em escala global.
No entanto, os autores do estudo destacaram que o arroz é um cultivo altamente derivado da auto-polinização, citando estudos anteriores que demonstraram "uma frequência muito reduzida (de 0,04% a 0,80%) do fluxo gênico mediado por pólen entre o arroz geneticamente modificado (OGM) e as plantas adjacentes não OGM".
Segundo os cientistas, mais pesquisas são necessárias para avaliar a segurança da proteína derivada do arroz em animais e seres humanos, antes de que possa sua produção possa ser considerada no mercado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário