MANOEL CAETANO BANDEIRA DE MELLO
(1918-2008)
(1918-2008)
Poeta, ensaísta, advogado, nasceu em Caxias, Maranhão, em 1918. Foi membro da Academia de Letras do Maranhão.
Obra poética: A viagem humana (1960), O mergulhador (1963), Canções da morte e do amor (1968), Da humana promessa (1976), Uma canção à beira-mar (1977), Durante o canto (1978), A estrada das estrelas (1981), Da constante canção (1983).
DA HUMANA PROMESSA
I
busca em tamanho tempo pelo meio
entre silêncio alheio a nossa vida
alheios nós também que não a enleio
de pessoa uma a outra prometida
não era silêncio o que em torno estava
mas vozes indiferentes olhos distantes
enquanto o mesmo tempo nos andava
que é o mesmo sempre o tempo viajante
o mundo apartara antigas ânsias
agora novamente as aproxima
de volta percorridas as distâncias
o amor esvanecido paira acima
das distâncias do mundo não palavras
mas mútuos mas sentidos pensamentos
saudades de venturas antessonhadas
depois da vida inteira de lamento
por nunca ter ousado essa presença
temeroso de ouvir esse chamado
amor se esvai no tempo quando pensa
que o espaço protege os afastados
se esvai mas volta como era dantes
o espaço pelo tempo conquistado
pela memória somos viajantes
para sermos repostos lado a lado
tal noutros tempos apesar de mudos
os olhos conversavam com espanto
do que diziam revelavam tudo
que outra linguagem não esclarece tanto
o mundo pequenino se afigura
busca em tamanho tempo pelo meio
entre silêncio alheio a nossa vida
alheios nós também que não a enleio
de pessoa uma a outra prometida
não era silêncio o que em torno estava
mas vozes indiferentes olhos distantes
enquanto o mesmo tempo nos andava
que é o mesmo sempre o tempo viajante
o mundo apartara antigas ânsias
agora novamente as aproxima
de volta percorridas as distâncias
o amor esvanecido paira acima
das distâncias do mundo não palavras
mas mútuos mas sentidos pensamentos
saudades de venturas antessonhadas
depois da vida inteira de lamento
por nunca ter ousado essa presença
temeroso de ouvir esse chamado
amor se esvai no tempo quando pensa
que o espaço protege os afastados
se esvai mas volta como era dantes
o espaço pelo tempo conquistado
pela memória somos viajantes
para sermos repostos lado a lado
tal noutros tempos apesar de mudos
os olhos conversavam com espanto
do que diziam revelavam tudo
que outra linguagem não esclarece tanto
o mundo pequenino se afigura
a quem o realiza pelo sonho
triunfante de névoa outrora escura
entre passos dos anos de abandono
não procurado apenas sendo imposto
segundo a lei de existência aceita
atrás do novo rosto o outro rosto
a figura de amor nunca desfeita
triunfante de névoa outrora escura
entre passos dos anos de abandono
não procurado apenas sendo imposto
segundo a lei de existência aceita
atrás do novo rosto o outro rosto
a figura de amor nunca desfeita
O velho e a noite
Ó noite negra, noite das noites.
Ó noite fonte da própria fonte,
com o teu silêncio, com a tua sombra,
com a tua ausência, com o teu sono,
com a luz que te peja e que ocultas,
presa ao teu peso que a subjuga.
Ó protetora dos que não acham
a paz senão quando se apagam
no teu refúgio, perdidas faces.
Ó noite, noite, nunca passasses.
Os Bêbados
Ciranda e homens e mulheres
de cozinhadas epidermes.
As duras barbas,
roupas rasgadas.
E estas mulheres descabeladas.
Olhos vermelhos à luz do dia
que dissipara a noite amiga
de onde chegaram.
Todos por fora desbocados,
Porém por dentro caramujos.
Todos se rindo, de ares soturnos,
vindos da praia
cambaleantes
como marujos.
Todos vieram do mar noturno,
do mar de areias salpicantes.
Todos sujos.
Hoje Amanhã
No hoje todo o amanhã, no espaço o objeto.
Tudo o que é será o seu futuro.
A pedra, o sangue, o lodo, o lírio, o afeto,
flor humana que nasce do monturo.
As estrelas mudaram o seu aspecto
no caos que gera ou não o nascituro.
O nascente clarão rompe direto
da dor da fricção do ventre escuro.
Sendo eu o que serei, serei já sendo
inelutavelmente condenado
ao meu próprio amanhã e ao de tudo.
Porvir indiferente se o prevendo,
quer veja o dia de hoje ou o outro lado,
quer grite nesta cela ou fique mudo.
A Viagem
O que de sombra atrás do silêncio dos véus,
atrás do gelo das luas,
do reflexo das estrelas
nos corpos em rota centrífuga.
E depois espaços cegos.
O que de linha vazia.
O que de olhos desnecessários
De princípio sem fim e sem princípio.
De ausente verbo, de negro vôo.
Fundo sem fundo do fundo oriundo.
Curvas de marcos impossíveis,
de círculo iluminável,
súbito, na escuridão.
E no silêncio a imensidade.
UM CORPO DE MULHER
Este corpo de mulher
cálido
me atrai com seu mistério
trágico
A curva da costa
se funde
na curva da sombra
Este corpo de mulher não aterrado
Infenso ao trágico
As longas coxas morenas
confundidas com a sombra
descerram a guarda mais negra que vela no fundo
que vela um abismo
entredisfarçados pelos sobre o abismo
atrás do qual lateja o sangue estrelado
do universo
único verso
de A ESTRADA DAS ESTRELAS
SONETO DA SAUDADE
A volta aos dias claros da viagem
quando meu corpo esguio adolescia
e o espetáculo do mundo transcorria
a meus olhos leveza de miragem
Quando o brilho do campo era a imagem
do que dentro de mim acontecia
era tudo manhã do mesmo dia
encontrada nas cores da paisagem
Ainda escuto vozes peregrinas
ensurdecidas distanciadas sinais
que se passaram céleres no vento
Ontem tudo tão vivo, hoje desmaia
não há asa de vôo que não caia
na laje deste meu esquecimento
HOJE MANHÃ
Todo hoje tem amanhã, como o eu o objeto,
Tudo o que é será o seu futuro
A pedra o sangue o Iodo o lírio o afeto
flor humana que nasce de monturo
As estrelas brilhando em céu dileto
refervilhavam em caos prematuro
o irradiante clarão provém direto
da dor da fricção do ventre escuro
Sendo eu o que serei serei já sendo
inelutavelmente condenado
a meu próprio amanhã e ao de tudo
então se cumpra logo o ciclo horrendo
sendo eu o meu porvir mas apagado
no vivo mar desafogado mudo
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