domingo, 9 de agosto de 2009

POLÍCIA DO IRÃ ADMITE TORTURA EM PRISÃO

(da Associated Press, em Teerã (Irã) )

O chefe da polícia do Irã, o general Ismail Ahmadi Moghaddam, reconheceu neste domingo que manifestantes da oposição presos durante os distúrbios que seguiram à reeleição do presidente ultraconservador, Mahmoud Ahmadinejad, sofreram abusos na prisão.
O procurador-geral iraniano afirmou que os responsáveis pelos maus-tratos devem ser punidos, um discurso crítico incomum no regime islâmico iraniano e que veio para tentar acalmar os ânimos após a dura revelação.

O ultraconservador Ahmadinejad foi reeleito em pleito do dia 12 de junho passado, com cerca de 63% dos votos contra 34% do principal candidato da oposição, Mir Hossein Mousavi.
A votação foi seguida por semanas de fortes protestos da oposição por fraude. Os protestos, enfrentados com violência pela polícia e a milícia Basij, ligada à Guarda Revolucionária, deixaram ao menos 20 mortos, dezenas de feridos e cerca de 2.000 foram presos.

O Conselho dos Guardiães do Irã, órgão responsável por ratificar o resultado do pleito, aceitou fazer uma recontagem parcial dos votos para acalmar a oposição, mas confirmou a reeleição de Ahmadinejad depois de afirmar que a fraude em cerca de 3 milhões de votos não era suficiente para mudar o resultado das urnas.

Moghaddam reconheceu que os oposicionistas presos, alguns dos quais passaram por julgamento neste sábado, apanharam em suas celas na Kahrizak, a prisão nos arredores de Teerã que foi fechada pelo líder supremo, o aiatolá ALi Khamenei, depois de denúncias de abuso.

O general, em citação reproduzida pelas agências de notícias iranianas, negou que o abuso foi a causa das mortes de ao menos três jovens sob a custódia da polícia. Ele responsabilizou o ocorrido a um surto de vírus.
"Este centro de detenção foi construído para criminosos perigosos. Manter pessoas relacionadas aos recentes protestos causou um surto de doenças", disse Moghaddam, segundo a agência Irna.

Os manifestantes "morreram de viroses e não como resultado do espancamento", acrescentou, segundo outro agência, a semi-oficial Fars.

O procurador-geral do Irã, general Ghorban Ali Dorri Najafabadi, afirmou que os responsáveis devem ser punidos por "violações e falta de cuidado", afirma a agência Irna.
Ele afirmou ainda que havia uma ordem para que os manifestantes detidos não fossem levados a Kahrizak, mas ela foi ignorada. Grupos de direitos humanos identificaram ao menos três manifestantes que morreram após serem detidos no centro.

"Infelizmente, negligência e falta de cuidado de alguns oficiais causaram o incidente em Kahrizak, que não pode ser defendido", disse Najafabadi, que ressaltou, contudo, que o erro, nos primeiros dias, pode estar relacionado à superlotação do centro de detenção.
Guarda Revolucionária
A prisão de Kahrizak fica sob responsabilidade, oficialmente da polícia, mas é comandada de perto pelos agentes da Guarda Revolucionária, que opera com certa autonomia dos clérigos da república islâmica.
ELes lideraram a dura repressão contra os manifestantes após a reeleição de Ahmadinejad e foram responsáveis por boa parte das prisões nos piores distúrbios desde a Revolução Islâmica de 1979.

A Guarda foi criada logo após a revolução como uma força ideológica que defenderia o sistema teocrático. Com cerca de 120 mil agentes, a Guarda é melhor equipada e armada que o Exército do país.

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