sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Coluna de Fidel Castro


O fim não justifica os meios



As notícias diretas procedentes dos Estados Unidos às vezes causam indignação e, outras, repugnância.

Com certeza, nos últimos tempos, muitas delas se referiam aos problemas associados à grave crise econômica internacional e a suas consequências no seio do império. Não são, certamente, as únicas referentes a esse poderoso país. Qualquer página do grosso volume de notícias procedentes de um continente, região ou país do mundo, geralmente tem a ver com a política dos Estados Unidos. Não existe ponto do planeta onde não se experimente a avassaladora presença do império.

Como é lógico, durante quase dez anos, as notícias sobre suas guerras brutais ocuparam espaços importantes da imprensa e mais ainda quando havia uma eleição presidencial.
Contudo, ninguém imaginou que, em meio ao drama das guerras de conquista, apareceram as notícias sobre cárceres secretos e centros de tortura, um vergonhoso e bem guardado segredo do governo dos Estados Unidos.

O autor da grotesca política que conduziu a esse ponto usurpou a presidência dos Estados Unidos nas eleições de novembro de 2000, mediante a fraude eleitoral no estado sulista da Flórida, onde se decidiu a contenda.

Depois de usurpar o poder, W. Bush não só arrastou o país a uma política de guerra, mas também não assinou o Protocolo de Kyoto, negando ao mundo durante dez anos, na luta pelo meio ambiente, o apoio da nação que consome 25% do combustível fóssil, o que pode ocasionar à espécie humana um dano irreparável. A mudança climática já se pode constatar no incremento mundial do calor, que os pilotos de aviões executivos podem observar através dos tornados de crescente força que se formam nas primeiras horas da tarde em suas rotas tropicais e podem ser motivo de perigo para seus modernos jatos. Ainda se ignoram as causas do acidente do avião da Air France que se desintegrou em pleno voo.

Nada seria comparável com as consequências do degelo da enorme massa de água acumulada sobre o continente antártico, além da que se derrete na Groenlândia. Minha opinião a respeito da responsabilidade que tem Bush nisso sustentei-a num encontro recente com o cineasta norte-americano Oliver Stone, ao comentar-lhe seu filme: "W", referido ao penúltimo presidente dos Estados Unidos.

Limito-me a assinalar que, depois dos erros e horrores políticos de George W. Bush, o ex-vice-presidente Cheney, que foi seu conselheiro, sustenta a ideia de que as torturas ordenadas à CIA para obter informação estavam justificadas, porque salvaram vidas norte-americanas graças à informação obtida com esse método.

Com certeza, não salvou as vidas dos milhares de norte-americanos que morreram no Iraque, nem as de quase um milhão de iraquianos, nem os que em número crescente morrem no Afeganistão. Também não se sabe quais são as consequências do ódio acumulado pelos genocídios que se estão cometendo ou podem cometer-se por essas vias.

Trata-se, entenda-se bem, de um problema elementar de ética política: "o fim não justifica os meios". A tortura não justifica a tortura; o crime não justifica o crime.

Tal princípio foi debatido e sustentado durante séculos. Em virtude dele, a humanidade condenou todas as guerras de conquista e todos os crimes cometidos. É muito grave que o império mais poderoso e a superpotência mais colossal que tenha existido no mundo proclame tal política. Ainda mais preocupante é não só que o ex-vice-presidente e principal inspirador de tão pérfida política a proclame abertamente, mas sim que um elevado número de cidadãos desse país, talvez mais da metade, apoie isso. Nesse caso, seria uma prova do abismo moral ao qual pode conduzir o capitalismo desenvolvido, o consumismo e o imperialismo. De ser assim, deve proclamar-se abertamente e pedir opinião ao resto do mundo.

Penso, contudo, que os cidadãos mais cientes dos Estados Unidos serão capazes de travar e ganhar essa batalha moral à medida que compreendam a dolorosa realidade. Nenhuma pessoa honesta no mundo deseja para eles, ou para qualquer outro país, a morte de pessoas inocentes, vítimas de qualquer forma de terror, venha de onde vier.

Fidel Castro Ruz
2 de setembro de 2009

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